Tua ausência me passeia.
Visita corredores úmidos
imunes à luz.
Percorre compartimentos
há tanto inúteis.
Não há lugar
em que tua presença
se manifeste.
Vestígios de ti
se esgarçam.
Tua ausênia busca
nos jardins de mim
sementes
que te denunciem.
A primavera
te invalida
para sempre.
Monthly Archives: August 2014
Bebedeira
memória da infância
Hoje sei
um pouco mais
de mim.
Sou mar
navego
sou barco
sou pedra
sou ponte inútil
que ninguém
trafega.
Sou ilha perdida
quase no fim
do mundo
Sou fruta
da chácara
sou filha da terra
abandonada.
Sou saudade
de um mar insano
que me faz
viver mareada.
Guloseimas
ALELUIA
Expulsa a tristeza
que se hospedou
em mim
rasga os véus
de saudade que
colaram minhas retinas
lava esse gosto
de passado
que cobriu minha pele
– preciso renascer!
Inutilezas
Conselhos
aplausos
elogios
promessas?
Poupem-me!
Nada disso
me apraz.
Meu tempo é escasso
vou ouvir o riso
rouco do vento.
Aprender o dialeto
das andorinhas
e ensaiar
o balé russo
das nuvens.
Não me ocupem
com inutilezas.
Entrega
Eu vi o vento
ele me viu
e a correr
enlaçou meu corpo
moído de ausências.
Eu vi o mar
eterno amante
e ele, ao me ver
rompeu barragens
e alagou avenidas
só para aguar
minha alma
macerada de escamas.
Eu segui o vento
eu me dei ao mar.
Nudez
dá-me teus braços
Mítico ser e múltiplos disfarces!
Nunca nadei
num mar de rosas.
Amalgamei
cores ao rosto
difícil achar
o essencial.
Mimetisei-me
nos galhos,folhas,
sementes abortadas
adquiri propriedade
do obscuro
e descobri a fórmula
do invisivelmente.
Ofensas não mais
me acham
abates, eu lhes escapo
driblo tropeços
brinco de esconde-esconde
com as intempéries.
Não sendo nada
posso ser tudo.