O corpo se curva sob o peso
das décadas
traiçoeiras.
As mãos vigorosas riscam
acrobacias em pleno ar.
O olhar astuto finge nada ver
E mergulha albatroz
na nervura das pedras.
As pernas de uma infantil leveza
Arrastem passos de andorinha.
Vacilante como quem ensaia
A concretude da estrada
Segue a infante
dança ritmos incertos
de Uma melodia inaudível.
No rosto tantas travessias
Na alma inúmeras rachaduras
E no coração intacto
Às agruras
Verte um sangue vivo
De esperanças
Quando por instantes
O amor a sequestra
A menina frágil se embeleza
Recolhe as penas junto ao corpo
E varre os ares
Com voos de andorinha.
Tristuras
Esterilidade
tanto querer
Quis-te tanto
um querer imaterial
sendo encanto
temia que se partisse
temia que me sumisse
Quis=te com tal delicadeza
que tocar nesse quer
nunca ousei
Cada dia mais esvaindo-me
em doçuras raras
saboreando extintas especiarias
Quis-te tanto
e em abandono
esse querer
se desfez
em neblina
chuva
em agonia.
Querer
esse querer
eu não queria.
Dotes
Desposarias minha solidão?
Celebração em autos e estações
Dote de brotos e grãos
Pedregulhos anônimos
trazidos de remotas eras.
desposarias minha mudez
lacrada no mais longínquo
abandono?
Ousarias?
Ousarás?
Poema Póstumo
Devolve-me ao mar
Meu corpo exausto
anseia por respirar
No fundo, bem no fundo
do oceano guardei as escamas
que me cobrirão, um dia
quando eu me despir
da forma humana.
Dentro de corais
estão as mágicas algas
que me alimentarão
se eu precisar.
Peixes fosforescentes
guardam as entradas
dos meus caminhos
á beira-mar.
a=
Oceânica
Quando nasci
arrancaram-me guelras e escamas
para que eu jamais soubesse
a que reino pertencia
A dificuldade em respirar
revelou-me
sou oceânica.
Nunca mais
Nunca mais
não quero mais
amores inventados
são frágeis como as manhãs.
Apelo
Não é o corpo
Cético
Que pede
É a alma iludida
Que sonha
Com o amor.